15 Maio, 2019 8:52

Palestras sobre saúde mental e violência obstétrica dão prosseguimento à Semana Nacional da Defensoria Pública

Palestrantes abordaram os temas de forma simples e dinâmica e esclareceram dúvidas da plateia.

Lázaro Lemos
Defensor público Rogério Newton mediou a palestra de Lúcia Cristina dos Santos Rosa (Lázaro Lemos)

A Defensoria Pública do Estado do Piauí (DPE-PI) deu prosseguimento às atividades da Semana Nacional da Defensoria Pública, nessa terça-feira (14), com a realização de palestras no auditório da Casa de Núcleos da instituição.

Com a presença do defensor público geral, Erisvaldo Marques dos Reis; da subdefensora pública geral, Carla Yáscar Bento Feitosa Belchior, que coordena a Semana Nacional no Piauí; de defensoras e defensores públicos, servidores e estagiários da Defensoria, foram abordados os temas “Saúde Mental da Mulher: Sofrimento Mental em Mulheres na Contemporaneidade”, em palestra proferida pela assistente social Lúcia Cristina dos Santos Rosa e “Violência Obstétrica: Sobre os Direitos Reprodutivos das Mulheres”, em palestra da médica Maria das Dores Sousa Nunes.

A primeira palestra teve como mediador, o defensor público Rogério Newton de Carvalho Sousa, titular do Núcleo da Saúde da Defensoria. A palestrante Lúcia Cristina dos Santos Rosa, que é assistente social e, entre outras formações, especialista em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ, abordou o tema, discorrendo sobre as especificidades da pesquisa em saúde mental, especialmente em relação às mulheres.

“Vamos mostrar um pouco a multiplicidade de ser mulher na atualidade, trabalhando alguns pressupostos, porque hoje elas são muito plurais, muito embora as atendidas pela Defensoria sejam mulheres de baixa renda. Vamos trabalhar um pouco com isso, porque sabemos que a relação entre Defensoria e essa população é uma relação interclasses sociais e, às vezes, são códigos culturais bem diferenciados. Trabalhamos então na visão que Paulo Freire já defendia, da Pedagogia do Oprimido, que a gente tem que realmente ouvir o outro do lugar e posição em que ele se encontra na sociedade. Vamos também falar um pouquinho sobre as conquistas do feminismo e os rebatimentos dele nas relações entre casais, além desse fenômeno das mulheres em situação de violência e como isso repercute na saúde mental delas”, disse a palestrante.

A segunda palestra, que teve como mediadora a defensora pública Débora Cunha Vieira Cardoso, titular da 11ª Defensoria Pública de Família, teve como tema a Violência Obstétrica, que foi abordada de forma esclarecedora pela palestrante, Maria das Dores Sousa Nunes, doutora e mestra em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília/ Tulane- EUA, obstetra na Maternidade Wall Ferraz, médica do Núcleo de Estatísticas Vitais de Análise da Morte Materna na Fundação Municipal de Saúde, entre outros. “Na verdade, eu gostaria de agradecer à Defensoria Pública e, ao mesmo tempo, parabenizar por estarem em defesa delas. Quando a mulher, em um momento de muita vulnerabilidade, como gravidez, parto, puerpério e situação de abortamento, ao invés de receber ajuda,  se sente agredida, precisamos valorizar seu sentimento como paciente. Falar de violência obstétrica, é falar de agressão às mulheres nas instituições de saúde, seja por profissionais ou pelo Estado e, nesse momento em que há um pronunciamento do Ministério, no sentido de abolir o termo, consideramos que seria mais interessante trabalhar junto às instituições e serviços de saúde para o que realmente existe, que é a fala da mulher, do que ela sentiu e percebeu, para que cada vez mais, dentro da formação profissional, dos atendimentos, cada profissional possa trabalhar de forma mais respeitosa. Os maus-tratos, como fala a própria Organização Mundial de Saúde, de fato existem, são relatados em todo o mundo, Brasil e Piauí não ficam isentos disso. É um momento muito importante para se falar em violência obstétrica, especialmente no mês de maio, quando se tenta combater a mortalidade materna no mundo”, disse Maria das Dores Sousa Nunes.

Ao final das palestras cada mediador relatou suas impressões. Rogério Newton disse à  palestrante Lúcia Cristina dos Santos Rosa, “sentimo-nos honrados com sua presença, porque dignifica a pesquisa no Brasil, enveredando por um tema tão difícil. A Saúde Mental no Piauí ainda é incipiente. Sua fala trouxe humanidade, além do discurso construído, foi transmitida com grande sensibilidade a todos nós”. Débora Cardoso, por sua vez, destacou para  a médica Maria das Dores Sousa Nunes, “nesse momento de tantos retrocessos de direitos, essa fala trouxe muita esperança, estou encantada. Precisamos olhar para trás, para saber o que queremos daqui para frente. Tenham a certeza de que toda vez que procuramos um profissional, não é pelo currículo, mas pelo tanto de amor e paixão que ele tem pelo que faz”.  Os dois momentos suscitaram o debate e as palestrantes responderam aos questionamentos da plateia.

“Foi certamente um momento muito enriquecedor. As duas palestrantes abordaram os temas propostos de forma simples, direta e humanizada. Uma oportunidade única para o enriquecimento profissional de todos nós que, diariamente, lidamos com as dores de tantas pessoas que nos buscam. Foi uma honra e uma satisfação receber duas profissionais de reconhecido gabarito em suas áreas, o que tornou nossa tarde enriquecedora em todos os sentidos”, afirmou Carla Yáscar Belchior.

 A Semana Nacional da Defensoria Pública prossegue nesta quarta-feira (15), também no auditório da Casa de Núcleos, a partir das 8h30, com a palestra “Mulheres, Sexualidades e Direitos”, proferida por Andréa Cronemberger Rufino, professora de Ginecologia da Universidade Estadual do Piauí e da pós-graduação em Saúde e Comunidade (UFPI), com formação em Psicanálise, Psicodrama Clínico e Análise Psicodramática, sendo ainda especialista em Sexologia Clínica pela Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública. Em seguida, às 10h15, a diretora de Primeiro Atendimento da Defensoria e titular da 12ª Defensoria Pública de Família, defensora pública Patrícia Ferreira Monte Feitosa, falará sobre “Mulheres Trans e Registro Público”. Patrícia Monte é especialista em Direito Empresarial e em Segurança Pública e  Políticas Públicas, é defensora pública desde 2007 e autora do Projeto “Meu nome meu Orgulho”.

A Semana Nacional da Defensoria Pública, que neste ano tem como tema de campanha  “Defensoria Pública e os Direitos das Mulheres” e como slogan “Em Defesa Delas”, é uma  iniciativa anual da Associação Nacional de Defensoras e Defensores Públicos (Aanadep) a Semana conta com o apoio das Associações Estaduais e do Colégio Nacional de Defensores Gerais (Condege), sendo desenvolvida no Estado em conjunto com a Associação Piauiense de Defensoras e Defensores Públicos (Apidep) e a Escola Superior da Defensoria Pública  (Esdepi).

Autoria: Ângela Ferry
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