31 Maio, 2019 10:42

Educação de Jovens e Adultos contribui para redução do analfabetismo no Piauí

Em pouco mais de dois anos, o estado reduziu a taxa de analfabetos de 20,2% para 16,6%.

Francisco Leal
Alunas do Centro de Educação de Jovens e Adultos Professor Artur Furtado (Francisco Leal)

Nunca é tarde para voltar a estudar. Essa é a motivação de milhares de jovens e adultos piauienses que retornam à escola para recuperar o tempo perdido e veem na Educação de Jovens e Adultos (EJA) uma nova oportunidade de recomeçar. É o caso de Ozanir Alves, de 45 anos, que depois de 24 anos sem estudar, voltou e é aluna da VII etapa no Centro de Educação de Jovens e Adultos Professor Artur Furtado, localizado no Centro de Teresina. Ela sonha em ser tecnóloga em Vestuário.

“Engravidei aos 21 anos e ainda não tinha concluído meus estudos na época, tive que parar de estudar. Não esperava um dia voltar para a escola, mas, por incentivo da minha filha mais nova, retornei, já concluo o Ensino Médio em julho deste ano e quero fazer o curso de Vestuário no Instituto Federal de Educação (IFPI)”, conta Ozanir.

A EJA oferece vagas para jovens, adultos e idosos a partir de 15 anos para o ensino fundamental e a partir de 18 para o ensino médio. A modalidade de ensino, que aos poucos vem mudando a história do Piauí e oportunizando a busca por uma qualificação e um melhor acesso ao mercado de trabalho, em pouco mais de dois anos reduziu a taxa de analfabetos de 20,2% para 16,6%. Ozanir será a próxima a entrar em uma nova estatística. “Gosto muito de estar na sala de aula de novo na EJA, porque é uma modalidade mais rápida, acessível para nós adultos e que oferece um suporte aos alunos que querem recuperar o tempo perdido, com profissionais que fazem de tudo para que a gente não desista”, desabafa a estudante.

 (Francisco Leal)

As ações executadas vêm dando frutos no combate ao analfabetismo no estado. Em 2016, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade no Piauí foi estimada em 17,2%; em 2017, esse número caiu para 16,6%. Comparando os números desde 2010, tem-se uma queda de 13,9% no número de analfabetos no estado. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Piauí conseguiu reduzir em 0,6% os índices de analfabetismo entre 2016 e 2017.

Hoje, são cerca de 130 mil alunos em 400 escolas da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), nos turnos manhã, tarde e noite, e dessas, 28, são exclusivamente voltadas para a Educação de Jovens e Adultos. É o caso da Rosa Maria Pereira, de 49 anos, que parou de estudar porque precisava cuidar dos filhos e também é aluna da EJA. “Eu tinha que cuidar da casa, dos meus filhos, depois comecei a trabalhar, chegava cansada em casa e não tinha ânimo para estudar, mas criei forças e voltei pelos meus filhos, para dar exemplo a eles. Incentivada pelos meus filhos e pela diretora da escola, a professora Lenice, retornei à escola”, explica Rosa.

Ela, além de estar cursando o ensino médio, também está aprendendo a Língua Brasileira de Sinais (Libras) na mesma escola. “A escola me dá essa oportunidade e, para ter um futuro, penso em uma formação quando concluir, assim como vários de meus colegas estão procurando estudar para mudar de vida”, completa a estudante.

 (Francisco Leal)

Para garantir esse atendimento aos alunos, o Governo do Estado, via Seduc, vem trabalhando com metas estabelecidas no Plano Estadual de Educação (PEE), de acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), voltadas à EJA com o objetivo de elevar a escolaridade média da população de jovens e adultos. “Nossa Meta 9 do PEE é elevar a taxa de alfabetização da população de 15 anos ou mais para 90% e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional até 2024. Nesses últimos quatro anos, somos o estado que mais alfabetizou em todo o país, chegamos a reduzir quase quatro pontos de analfabetismo absoluto em dois anos”, diz Conceição Andrade, diretora da Unidade de Educação de Jovens e Adultos (Ueja) da Seduc.

Ações e estratégias

Ações e estratégias estão sendo adotadas para motivar essas pessoas a voltarem para a escola e concluir os estudos, como a forte campanha de matrículas no início do período letivo, com as equipes da Seduc e das Gerências Regionais de Educação (GREs) nas ruas, bem como a busca ativa. “A nossa principal estratégia é a busca ativa, ou seja, ir atrás dessas pessoas, seja na comunidade onde se encontra a escola, seja em locais de grande movimentação de pessoas, como o centro comercial, por exemplo, onde conscientizamos o máximo possível de pessoas”, conta a diretora Conceição Andrade.

De acordo com o superintendente de Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional da Seduc, professor José Barros Sobrinho, a redução dos índices se deve aos investimentos feitos ao longo dos anos. "No início dessa gestão, em 2015, foi feito um estudo e, com essas informações, conseguimos dar uma nova roupagem à alfabetização a fim de atingir a meta do plano. Além de elevar a escolaridade, temos como missão de garantir matrículas de Educação de Jovens e Edultos, nos ensinos Fundamental e Médio, na forma integrada à Educação Profissional. A meta do governador é atingir o IDH 0.7 e vamos trabalhar para aumentar anos de estudo e capacitar esse público para mercado de trabalho”, explica Sobrinho.

Parcerias

A Seduc conta ainda com a parceria da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), oportunizando à população carcerária voltar aos estudos e adquirirem a remissão da pena, além das comunidades terapêuticas, reeducandos e assistidos. “Este ano estamos em todas as comunidades terapêuticas, sistema prisional, comunidades quilombolas e indígenas, apresentando resultados positivos. De 2016 para cá, já ingressamos diversos reeducandos no ensino superior, este ano foram mais de sete alunos”, disse Conceição Andrade.

Os alunos podem ainda participar de uma preparação para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), direcionado aos jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos na idade apropriada para cada nível de ensino. Os resultados individuais do Encceja permitem a emissão de dois documentos distintos: a Certificação de Conclusão de ensino fundamental ou do ensino médio.

Recorde de aprovações no ensino superior e participação em olimpíadas

Em 2019, o Piauí tem um número recorde de aprovados no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que garante uma vaga em uma instituição de ensino superior. Só neste ano já foram aprovados mais de 200 alunos da EJA. São pessoas que estão realizando sonhos, superando as dificuldades e conquistando uma formação.

Os alunos da EJA também são incentivados a participarem de olimpíadas, como a Olimpíada Piauiense de Língua Portuguesa (Olinpi), que em 2018 premiou 35 estudantes, dentre eles alunos da EJA.

Aumento do IDH

Os alunos que experimentam o gosto pelos estudos e veem uma oportunidade de crescimento não param na alfabetização, dão continuidade no Ensino Médio e um grande número vai para o Ensino Superior e Profissionalizante. “Com a continuidade dos estudos dos jovens e adultos, eleva os anos de escolaridade, isso impacta diretamente no desenvolvimento econômico e humano do estado; são mais profissionais no mercado de trabalho, empreendedores que estão melhorando suas vidas por meio da educação”, acrescenta Conceição.

Autoria: Marília Andrade
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